A passagem de uma Igreja autorreferencial para uma Igreja de referência na sociedade contemporânea
Escolhido pelos cardeais da Santa Igreja, pela ação do Espírito Santo, para a Cátedra de São Pedro no conclave de 13 de março de 2013, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio adotou o nome de Francisco para se fazer próximo dos pobres — como o Santo de Assis — e sonhou uma Igreja “que acolhe, serve, sara, perdoa, sem nunca agir com uma ostentação de conduta. Uma Igreja com as portas abertas, que seja o porto de misericórdia”, conforme declarou na missa de conclusão da assembleia sinodal em 2023.
Em seus 12 anos de pontificado, Francisco protagonizou marcos e encontros com os pobres, doentes, migrantes, idosos, jovens, e encarcerados e de pessoas com deficiência. Fez firmes alertas sobre a degradação do meio ambiente e pela paz mundial, especialmente com a encíclica Laudato si’ de 2015.
O primeiro Papa latino-americano da história tem um jeito marcante e bem humorado de se comunicar. Usa uma linguagem direta e acessível, transmitindo mensagens profundas. Um dos gestos mais emblemáticos do seu pontificado foi a convocação de um sínodo para a Igreja (o Sínodo da Sinodalidade), no qual destacou a escuta como ponto central para o discernimento. A esse respeito, ele declarou: “Escutar com o coração é o segredo de uma Igreja sinodal que, na escuta, acolhe todos com o coração de Jesus”, conforme escreveu na Evangelii gaudium, sua primeira exortação apostólica publicada em 2013.
Esse caminhar juntos também foi visto nos sínodos sobre a família (2015-2016), sobre os jovens (2018) e para a Amazônia (2019). Ele acreditava, firmemente, que na Igreja a comunhão se faz entre irmãos, com confiança mútua na unidade, respeitando as diferenças.
Francisco também fez os líderes mundiais se voltarem para as periferias geográficas e existenciais, e criticou a “cultura do descarte” que atinge os mais pobres. Diante da indiferença crescente à vida e à dor dos outros, foi ele quem afirmou: “Muitos dos nossos males sociais nascem da ausência de Deus nas nossas vidas, e da falta de confiança no próximo”.
Ele também acolheu com carinho e firmeza os jovens, motivando-os a serem protagonistas de um novo tempo: “Queridos jovens, vocês são a esperança viva da Igreja. Não tenham medo de sonhar alto!”
Em sua primeira viagem apostólica, Francisco veio ao Brasil, em 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro. A missa de envio na praia de Copacabana reuniu mais de 3 milhões de pessoas. Lá, ele disse: “Jesus oferece algo maior que a Copa do Mundo. Ele nos oferece uma vida plena”.
Também se destacou pelas visitas aos campos de refugiados, às favelas, aos lugares esquecidos do mundo. Em várias dessas visitas, Francisco lavou os pés de refugiados e prisioneiros, num gesto de humildade e compaixão.
No Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor, fez o seu último pronunciamento público como Papa. A Praça de São Pedro estava cheia de fiéis e, numa missa comovente, o mundo ouviu suas últimas palavras como pontífice: “Mais uma vez, confio-vos a Maria, a mãe da Igreja, e vos agradeço por terem caminhado comigo. Continuemos a rezar uns pelos outros. Não vos esqueçais: a alegria é missionária”.
Comovidos, os cardeais Giovanni Ravelli, Dieter e outros bispos presentes no Vaticano conduziram a Missa de ação de graças no final da tarde. O sino da Basílica tocou por três minutos em homenagem a Francisco, e os fiéis entoaram: “Obrigado, Papa Francisco”.
Ao longo do dia, as redes sociais foram tomadas por homenagens de jovens, religiosos, chefes de Estado e pessoas de todo o mundo. Muitos se emocionaram ao lembrar dos momentos de fé e coragem inspirados por Francisco.
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